Prefeitura Municipal de Assú

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

'Ele não estava preparado para governar'

Nas eleições de 2000, ainda desconhecida do grande público, a enfermeira Fafá Rosado teve a coragem de aceitar a convocação do PMDB para ser candidata à Prefeitura de Mossoró. Missão delicada: enfrentar a então prefeita e candidata à reeleição Rosalba Ciarlini. Abertas as urnas, favoritismo comprovado. No entanto, Fafá obteve votação surpreendente. Foi o suficiente para ela sair da liderança da ex-deputada Sandra Rosado (PSB) e se tornar prefeita de Mossoró quatro anos depois, já com apoio de Rosalba. Em 2008, mandato renovado com votação expressiva. Nos oito anos de administração, com aprovação popular em alta, transformou o esposo, médico Leonardo Nogueira, deputado estadual em duas legislaturas. Isso, porém, não foi suficiente para transformar em vitória o projeto de 2014: Fafá fracassou como candidata à Câmara dos Deputados e Leonardo não renovou o mandato. Hoje, a ex-prefeita vê nas ruas a possibilidade de voltar ao Palácio da Resistência. “Por onde eu passo, as pessoas pedem para eu voltar”, afirma, durante longo conversa no “Cafezinho com César Santos”, gravado na última quinta-feira, no gabinete do JORNAL DE FATO. Fafá Rosado admite que é pré-candidata, que tem o aval do PMDB, mas que tudo dependerá da vontade do povo. A ex-prefeito também alimenta a possibilidade de fazer dobradinha com ex-governador Rosalba Ciarlini, “para o bem da cidade de Mossoró”.

O nome da senhora aparece no tabuleiro da sucessão municipal do próximo ano, em todas as rodas de conversa política. O seu grupo trabalha com essa posição?
Eu sempre digo que nunca imaginei ser um dia prefeita de Mossoró, mas tive essa oportunidade que administrar a nossa cidade por oito anos. Então, acho natural que o seu nome esteja sendo lembrado para uma possível candidatura à Prefeitura. Acho que isso ocorre pelo trabalho que realizamos, com competência, responsabilidade e zelo pelo bem público. O nosso compromisso de trabalhar e servir com honestidade é reconhecido pelo povo. Então, nada mais natural do que ter o nome lembrado para voltar a administrar a nossa cidade.

A senhora, então, se coloca como pré-candidata?
Quando a gente escuta a população, é possível observar o desejo das pessoas e tirar conclusões. Eu tenho andado bastante nas ruas de Mossoró, visitando os bairros, conversando com os amigos e ouvindo a população. Tenho escutado bastante as pessoas falarem que têm saudades de Fafá como prefeita. Primeiro, considero esse sentimento popular bastante gratificante. Segundo, vejo como uma responsabilidade muito grande, porque, enquanto cidadão mossoroense tenho essa missão de trabalhar pelo bem da cidade e das pessoas, independentemente de ter mandado ou não. Portanto, quero dizer que estarei sempre a disposição para servir a Mossoró e ao nosso povo. Seja ocupando mandato eletivo ou mesmo como simples cidadã.

Vou insistir, a senhora é hoje uma pré-candidata?
Olha, estou acompanhando o sentimento das pessoas. Falo das pessoas que querem o bem Mossoró, como eu quero. Elas esperam que a cidade volte a se desenvolver, como ocorreu no passado. As pessoas não querem que Mossoró continue passando por grandes dificuldades como acontece hoje. Todas as áreas administrativas estão passando por problemas, o que sugere que a cidade não está bem governada. Não é só Fafá que diz isso, mas toda a população. Então, o importante nesse momento é olhar a situação em que se encontra Mossoró, para elaborar um projeto capaz de recuperar a nossa amada cidade.

A senhora é pré-candidata?
Ainda estamos distantes das eleições, portanto, não é o momento para decidir quem é ou será candidato a prefeito de Mossoró. Mas, se essa decisão recair para a minha pessoa, eu posso afirmar que aceitarei o desafio. Já disse isso aos líderes do meu partido, o ministro Henrique Alves e o senador Garibaldi Filho, quando eles me perguntaram se eu aceitaria ser candidata outra vez. Disse que sim. Não sou de fugir dos desafios. Foi assim no ano 2000, quando o PMDB me convocou para ser candidata numa situação bastante adversa, porque do outro lado a candidata era a prefeita Rosalba. Fui e cumpri a minha missão. Sai da condição de não ser muito conhecida em Mossoró, mas acredito que a votação que obtive foi determinante para as vitórias que conquistamos nas eleições seguintes. Não ganhamos as eleições de 2000, como todos sabem, mas nos elegemos prefeita em 2004 e renovamos o mandato em 2008. Portanto, o nome está posto a disposição do meu partido e do povo de Mossoró.

O senhora deseja voltar a administrar Mossoró?
Posso afirmar: eu não pensava em ter esse desejo. Mas quando eu vejo o que está acontecendo em Mossoró, com os problemas que aí estão, tenho vontade de voltar para oferecer a minha experiência administrativa para recuperar a nossa cidade. Mossoró passa por uma situação delicada. Veja a saúde, que é a minha área de atuação como profissional. Está desestruturada, com os problemas se acumulando e, por gravidade, não prestando bom atendimento à população. Escuto dos profissionais da saúde e das pessoas que têm saudade do nosso tempo de prefeita, onde a saúde recebeu grandes investimentos e era vista como exemplo de gestão pública. Isso nos dá coragem de enfrentar novos desafios para voltar a administrar Mossoró.

A senhora considera grave a crise na saúde pública de Mossoró?
É gravíssima. Os relatos que nos tem chegado e as coisas que temos vistos são preocupantes. As Unidades Básicas estão sucateadas, desde a estrutura, passando por equipamentos, falta de medicamentos e de médicos. A UBS do Bom Jesus foi fechada porque a estrutura ameaçava desabar. Aquela cena das pessoas sendo atendidas debaixo de uma árvore é deprimente e revoltante. As Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs), que eram referência, estão com funcionamento comprometido, inclusive, com o prefeito determinando a redução do número de médicos plantonistas. Então, diante de tudo isso, nos despertar a vontade voltar para trabalhar por nossa cidade.

A possível candidatura da senhora à Prefeitura tem o respaldo do seu partido, o PMDB, uma vez que a bancada de vereadores apoia o prefeito Silveira Júnior?
Respeitamos a posição dos nossos vereadores, mas acredito que o nosso partido tem um projeto para 2016, não apenas em Mossoró, mas em todo o Estado, e que esse projeto será acompanhado por todos.  O presidente Henrique Alves disse, em várias reuniões, inclusive, com os nossos vereadores, que o PMDB disputará o maior número possível de prefeituras do Rio Grande do Norte. Mossoró por sua importância, como segundo maior colégio eleitoral do Estado, o PMDB tem interesse muito grande em ter candidatura própria. Não quero dizer que esse candidato seja a minha pessoa, ou que há definição nesse sentido, mas sim que o partido trabalhará para ter nome próprio. Pode ser Fafá ou qualquer outro nome.

Como o partido, e a sua senhora é a presidente local, está trabalhando para construir uma candidatura própria à Prefeitura?
Primeiro, iniciamos o trabalho de reestruturação do partido em Mossoró. Estamos instalando a sede própria, que funcionará no bairro Boa Vista, reduto do aluizismo. Seria inaugurada neste domingo, mas o nosso presidente Henrique teve que ficar em Brasília para acompanhar o tratamento de saúde do nosso senador Garibaldi Filho. O PMDB também está renovando a comissão provisória da qual sou presidente. A partir daí, vamos receber novos filiados e futuros candidatos à Câmara Municipal. Por consequência, iniciaremos o processo sucessório, conversando com outros partidos, como forma de construir uma chapa forte para disputar a Prefeitura. Vamos nos juntar a todos aqueles que querem o bem de Mossoró.

A senhora fez agora pouco duras críticas a atual gestão municipal, mas o prefeito Silveira se elegeu com o seu apoio. Qual o sentimento que a senhora tem em relação a esse apoio: arrependimento ou decepção?
De arrependimento não, porque achávamos que ele era capaz de administrar Mossoró. Um jovem, presidente da Câmara Municipal, que poderia fazer algo mais para a cidade. Portanto, temos o sentimento da decepção. Toda Mossoró deu um voto de confiança ao prefeito que aí está, como eu dei na condição de representante do povo. Só que ele está decepcionando. O que temos vendo e ouvindo são coisas que jamais imaginávamos que aconteceria na Prefeitura de Mossoró. Os desmandos estão aí para todo mundo vê. Caos na saúde, na educação, no transporte público, na coleta de lixo, em todos os setores. Dívidas com fornecedores, com as terceirizadas. A economia da cidade também sofre com a falta de gestão do prefeito. Veja essa polêmica dos transportes intermunicipais, que sofreram medidas restritivas e, por gravidade, diminuíram o fluxo de consumidores de outras cidades que aqui vinham para comprar no nosso comércio.

Esse diagnóstico, que a senhora faz, coloca o prefeito fora do embate eleitoral?
Não entrarei nesse mérito. A população mossoroense é que tem o dever de decidir. O que quero dizer aqui é que a cidade não está bem administrada. Volto a citar os problemas da saúde, área de grande relevância para as pessoas. Na nossa administração a saúde foi tratada com prioridade, por isso, a avaliação positiva que recebeu. O atendimento nas UPAs era de referência e a sua capacidade de receber a demanda beneficiava o Hospital Regional Tarcísio Maia. Veja só: se o funcionamento do setor secundário era bom, no caso as UPAs, o setor terceiro melhorava a assistência, no caso o Tarcísio Maia, porque o fluxo de pacientes era bem menor. Hoje ocorre o contrário. O Tarcísio Maia está sempre superlotado porque as UPAs estão com dificuldades de atendimento.  Essa avaliação o povo vai fazer no momento que for chamado para decidir o futuro de Mossoró. Caberá o eleitor fazer a escolha certa.

Na opinião da senhora, porque o prefeito Silveira não faz boa administração, ou não deu certo?
Falta capacidade administrativa. Infelizmente, ele não estava preparado para governar uma cidade do porte e da importância de Mossoró. O seu estilo de administrar é bem diferente do que a gestão pública precisa. Ele não teve capacidade de formar uma boa equipe técnica, que tivesse o conhecimento necessário para cuidas da gestão municipal. Para piorar, o prefeito não gosta de ouvir as pessoas, não procura saber o que as pessoas necessitam. Todo gestor, seja prefeito, governador ou presidente, tem que conhecer o sentimento da população, conhecer os anseios, para realizar as ações esperadas por todos. Essa falta de competência da gestão municipal reflete no caos em que se encontra a cidade de Mossoró.

Nesse projeto, cabe a ex-governadora Rosalba Ciarlini?
Temos um relacionamento muito bom com Rosalba. Temos nos encontrados em eventos e até já falamos sobre política. Isso foi no início do ano. Conversamos, a bem da verdade, de forma amistosa. Agora, Rosalba tem esses problemas jurídicos para resolver e eu, particularmente, acredito que ela resolverá. Rosalba não cometeu nenhum erro para pagar com a inelegibilidade, por isso, esperado  que ela possa reconquistar os seus direitos. Posso afirmar que o meu desejo e o de Rosalba é o mesmo, que Mossoró volte a crescer. Ela foi uma boa gestora e nós procuramos fazer o mesmo. Saímos da Prefeitura bem avaliadas, com mais de 80 por cento de aprovação popular. Eu sinto que as pessoas querem ver nós duas outra vez no mesmo palanque.

Isso significa que a dobradinha Rosalba/Fafá pode acontecer em 2016?
Pode sim. E isso independe de quem será candidata ou candidato. Podemos fazer parte do mesmo palanque em nome de Mossoró.


Fonte: Jornal de Fato

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