Quantas vezes você não viu a cena de
pessoas sentadas em determinado local e cada uma com o celular na mão,
conversando via WhatsApp? Quantas vezes você não ouviu a pergunta: “tem Face?” Sim,
a sociedade está cada vez mais direcionada ao mundo virtual e deixando de lado
os laços sociais. Esquecendo o abraço, o namoro de calçada, a paquera real. E
esses fatores, aliados a outros, estão direcionando homens, mulheres e crianças
ao mal do século: a depressão, que é provocada pela ansiedade, Transtornos
Obsessivos Compulsivos (TOCs) e alteração comportamental. E tal realidade
aponta para outro problema, que é o crescente consumo de remédios controlados.
A psicóloga Érika Pedroza afirmou que
estudos apontam que o mal do século é justamente a depressão, que afeta pessoas
que têm estilo de vida mais voltado ao mundo virtual, seja por causa do
trabalho ou devido às circunstâncias do mundo moderno decorrentes da violência.
Aliado a isso, tem o nível de estresse da modernidade, que leva o homem (homem,
mulher ou criança) a buscar cada vez mais a praticidade e o imediatismo para
resolver problemas, bem como encontrar algo que satisfaça algum desejo. “O
nível de estresse das pessoas é altíssimo e as relações familiares estão
desgastadas”, afirmou a psicóloga.
Tudo o que foi dito até aqui remete a
uma só questão: as relações sociais deixaram de ocorrer no campo real para se
“concretizarem” no mundo virtual. E isso leva ao isolamento, à solidão e,
consequentemente, à depressão. E esse mal acarreta uma série de complicações,
desde a interferência médica ao uso indiscriminado de medicamentos para
controlar a ansiedade.
Como se tudo isso não bastasse, a
psicóloga Érika Pedroza apontou para outro fator que leva à depressão e que
está ligado diretamente à produtividade do cidadão: a exigência cada vez maior
do mercado de trabalho. “Vivemos em uma sociedade da emergência e as pessoas
querem respostas imediatas. Em alguns casos, buscam a automedicação e hoje o
Valium é o medicamento mais vendido no mundo”, acrescentou.
E os problemas decorrentes de uma
sociedade ávida pelo imediatismo ocorrem em rede. Os sintomas variam de pessoa
para pessoa e somente um profissional poderá identificá-los. Mas pode começar
com uma simples depressão e se transformar em algo bem maior, podendo culminar
com o suicídio. Em alguns casos, os sintomas podem até ser novos, mas indicam
problema velho e hereditário, como a esquizofrenia e a bipolaridade.
Consumo de medicação controlada é crescente
O resultado do imediatismo da
sociedade, causando estresse e ansiedade – chegando a causar danos maiores ao
homem – é medido pela quantidade de remédios controlados adquiridos pela rede
pública de saúde. Em Mossoró, de 2013 até abril deste ano, segundo informações
da secretária municipal de Saúde, Leodise Cruz, houve aumento considerável dos
chamados ansiolíticos. É o caso do Diazepan (10 mg). Em 2013, durante o ano
todo, foram consumidas 967.600 unidades do medicamento. Neste ano, de janeiro
até abril, foram exatas um milhão de unidades.
Para confirmar o crescimento no
consumo de medicamentos controlados, os números fornecidos pela Secretaria
Municipal de Saúde são de que no ano passado os usuários da saúde mental
consumiram 3.790.850 unidades. De janeiro até o mês de abril, deste ano, o
número chega a 3.187.430 unidades. Ou seja, em apenas quatro meses, o número de
pessoas com algum problema ou transtorno mental cresceu e o total de
comprimidos distribuídos chega perto do que se utilizou no ano passado. E isso
envolve Diazepan, Amitripilina, Clonazepan, Fluoxetina, Haloperidol, Bipedireno,
Carmazepina e Clonazepan.
O uso desses medicamentos é controlado
e somente pode ser vendido com a apresentação da guia médica (receita), que tem
cor diferenciada das demais (as guias normais são brancas e as de remédio
controlado, azuis). Assim sendo, é preciso que o usuário seja atendido
sistematicamente por profissionais da saúde mental, serviço oferecido pela
Prefeitura de Mossoró por meio dos Capsi’s (Adulto, Infantil e Álcool e Droga),
Unidade de Saúde Mental (Uisam) e Hospital São Camilo. Tudo, porém, começa nas
Unidades Básicas de Saúde (UBS’s), onde o médico encaminha o paciente para
profissional especializado (psicólogo e/ou psiquiatra).
A psicóloga Érika Pedroza afirmou que
a aliança Psicologia/Psiquiatra é uma via de mão dupla e que não se pode pensar
em tratamento de saúde mental de forma dissociada. Em outras palavras, tanto o
psicólogo pode encaminhar para o psiquiatra como este pode encaminhar para o
atendimento e acompanhamento psicológico.
Medicamentos consumidos em 2013
Amitriptilina 25mg – 699.990 unidades
Biperideno 2mg – 600.000 unidades
Carbamazepina 200mg – 471.950 unidades
Clonazepan 2mg – 705.000 unidades
Diazepan 10mg – 967.600 unidades
Fluoxetina 20mg – 149.110 unidades
Haloperidol 5mg – 197.200 unidades
Medicamentos consumidos de janeiro a
abril de 2014
Clonazepan 0,5mg – 100.000 unidades
Clonazepan 2mg – 482.500 unidades
Diazepan 10mg – 1.000.000 unidades
Fluozetina 20mg – 999.950 unidades
Haloperidol 5mg – 601.980 unidades
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde
SMS quer ampliar serviços e levar
atendimento à população carcerária
Com a rede de atendimento à saúde
mental, a secretária de Saúde, Leodise Cruz, enfatizou que a chegada do
paciente é mais facilitada e, consequentemente, o acesso aos medicamentos é
garantido. Ela frisou, contudo, que os pacientes precisam de assistência
contínua e que, por tal motivo, as farmácias (um total de quatro) distribuem a
medicação duas vezes por semana. Justamente pelo fato de se precisar do retorno
do paciente ao profissional da saúde, a fim de que possa ser feita a avaliação
ou reavaliação. Nos Capsi’s ocorre a mesma metodologia de distribuição da
medicação controlada. “O paciente precisa ser reavaliado sempre”, disse a
secretária.
Para tanto, a secretária Leodise Cruz
enfatizou a necessidade do paciente fazer o agendamento da consulta. Ela
acentuou que o usuário deve estar inserido na rede de atendimento à saúde
mental e que o tratamento começa nas Unidades Básicas de Saúde. No caso de
crianças, a assistência é feita no Caps Infantil. Se o problema envolver
depressão leve, o paciente é direcionado à UISAM. Caso a depressão se apresente
com surtos psicóticos e necessite de internação, a alternativa pode estar no Hospital
São Camilo.
Penitenciária
Paralelamente às ações já
desenvolvidas na chamada rede credenciada à saúde mental, a Secretaria
Municipal de Saúde pretende estender os serviços à população carcerária de
Mossoró. O primeiro passo nesse sentido, segundo a secretária, diz respeito ao
agendamento no atendimento aos presos da Penitenciária Agrícola Mário Negócio.
Especificamente aos apenados que são viciados em drogas e álcool.
“Estamos tentando cadastrar (a
penitenciária) e garantir a saúde mental aos presos. Mas o profissional médico
ou enfermeiro já está levando os medicamentos”, informou, acrescentando que
isso não basta e que é preciso o acompanhamento. Para tanto, é necessário o cadastramento
da penitenciária para que o agendamento das ações seja oficializado.
Fonte: Jornal de Fato